segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Saia não, kilt!*



Brasil, lindo país tropical, cheio de mulatas prontas para sambar a cada esquina, prontas para o carnaval. Cercadas de malandros, alcoólatras, sambistas, que batem carteiras por hobbie, enquanto jaguatiricas atravessam a Paulista e pedestres transitam em cipós pendurados no prédios.

Pois é coleguinha, da mesma forma que não somos esse monte de clichê e merda, também não os são os escoceses. Então se você espera chegar aqui e ver um monte de ruivo vestindo kilts, tocando gaitas de fole e bebendo whisky 7 dias da semana, enquanto gritam "freeeeeeeeeedom", você vai se decepcionar muito.

Esclarecer toda uma cultura milenar em um post é impossível, ainda mais quando nem eu mesma terminei de compreendê-la. Então vamos começar pelo kilt. E não, eu não recomendo chamar de saia porque eles ficam ofendidos. A não ser, é claro, que você ache legal ofender os outros.

O kilt é uma vestimenta tradicional que tem um longa história, que pode ser lida em detalhes nos links ao final desse post, eu farei um super mega resumo. Então vamos lá: resumidamente, em algum momento entre os séculos 17 e 18 trabalhadores escoceses criaram uma roupa de lã que era quase uma túnica e que era útil porque durante a noite eles podiam desmontar a roupa e usar como cobertor no meio dessa friaca da porra.

A roupa foi evoluindo até se tornar uma saia devidamente plissada e começar a possuir tartans específicos. Só que o kilt acabou marcando o sistema de organização por clãs e quando os jacobinos e a guerra civil entre os clãs começou o kilt foi tomado como um símbolo do sistema de clãs e por isso o Rei George II cria um "dress act" em 1746 e bane o kilt - a não ser para os membros do exército.

Até que em um outro o George, o IV, vai vistiar a Escócia em 1822 e o pessoal quer receber o rei com pompa e cerimônia, mas sendo eles escoceses, aproveitaram pra dar uma cutucadinha e fizeram uma cerimônia toda Gaélica e re-inventaram o kilt. Georginho deve ter gostado, porque depois disso ele usa um kilt o que ajuda a popularizar a vestimenta e a torna um símbolo escocês (apesar de existirem kilts na Irlanda também!).

Tá bom de história, vamos continuar agora com o que é um kilt. O kilt em si é a "saia", mas na versão completa e formal ele vem acompanhado de várias outras coisas que são uma camisa (que é uma camisa de kilt, uma pouco diferente e sempre com abotuaduras), gravata, colete, jaqueta (váááááários modelos), uma meia que vai até o meio da perna, um sapato de amarrar cheio de frescura, uma adaga (que encaixa na meia) que se chama Sgian Dubhs, um broche que vai preso a saia, uma "bolsinha" chamada sporran presa a um cinto (cujo objetivo é pesar na saia e cobrir tudo lá embaixo quando a criança senta de perna aberta) e nenhuma cueca. Isso mesmo, nada de cueca em baixo do kilt - existem inúmeras fotos na internet para confirmar esse fato... vai lá no google, vai. 

E sobre a tal da faquinha, a Sgian Dubhs; diz um amigo meu que é a única situação em que o porte de uma arma branca não é considredo crime na Escócia. Mas eu não tenho fontes confiáveis para confirmar o tal fato.

Ahhh e claro, o tartan. O tartan nada mais é que uma estampa xadrez, mas ele é muito mais do que isso. No começo ele definia a região de que a pessoa era originária, cada região tinha o seu tartan característico. Mas após o lance do Rei George ele passou a ser específico por clã. Cada clã tem o seu tartan (ou tartans) que só pode ser usado pelos membros do clã, os demais usam tartan que não pertençam a clã nenhum. Entendeu?

Agora, o usos do kilt. O primeiro é pra tocar gaita de fole na rua e assim ganhar muito dinheiro de turistas idiotas, mas não nego que o charme da gaita de fole tocada de kilt é sensacional e até onde eu vi eles sempre que se apresentam formalmente tocando bag pipes estão devidamente vestidos com seus kilts e preferencialmente um chapéu estranho.


O segundo uso do kilt é para situações formais, em que ele é usado completinho, igual aos que aparecem nas fotos abaixo (demonstrados por 3 fantásticos exemplares da genética escocesa). Basicamente esse kilt é usado em situações em que se pode usar um smooking ou um fraque. Logo: casamentos, formaturas, bailes de debutantes, entrega do Oscar, etc.



Temos também a versão informal. Que nada mais é do que a parte principal do kilt, ou seja "a saia", sem todo o complemento, pode ir com camiseta, camisa e sandália, bota, camiseta de time, sem camisa e de havaianas. Esse ai é usado pra várias coisas: partidas de futebol, festivais de música, atos patrióticos, festas de ano novo na casa da Má...


O último uso é quando você é um membro da família real e te dá vontade de usar. Afinal, você é um membro da família real e, portanto, pode fazer tudo o que quiser. E ai você se pergunta: mas... ué? Os escoceses e o Mel Gibson não querem ser livres da Betinha? Esse lance de liberdade e independência é lance para todo um outro post, mas... não se esqueçam que o marido da Betinha - a.k.a. Her Majesty The Queen - é o Duke of Edimburgh (capital da Escócia), que na verdade é grego, filho de dinamarqueses, mas foi criado na Escócia, ou não!




Tudo que você nunca soube que queria saber sobre kilts:

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